sexta-feira, outubro 11th, 2019
Não é só de Halloween que vive o mês de outubro e, como sabemos, o dia das crianças está se aproximando. Pensando em um post sobre literatura infantil, surgiu um debate dentro da nossa equipe sobre a realidade da tradução de obras estrangeiras para o público infantil. O primeiro autor que nos veio à cabeça foi Dr. Seuss: lembrado pelo seu trabalho ao mesmo tempo poético e divertido, ele com certeza representou um desafio para os tradutores do mundo! Sua obra baseava-se em rimas simples, com jogos de palavras próprios da língua inglesa e uma estrutura complexa, mas ao mesmo tempo clara o suficiente para permitir que crianças o compreendessem. Hoje, analisaremos alguns exemplos de traduções de suas obras, para mostrar como o tradutor é um ser criativo!
The Cat in the Hat
Uma das obras mais famosas do autor, o título desta obra teve duas adaptações audiovisuais no brasil: a versão cinematográfica, e a versão animada, transmitida pelo canal Discovery Kids. Enquanto a primeira denominava-se apenas “O gato”, nosso destaque é para a segunda versão. A solução encontrada para reproduzir o nome do material “The Cat in the Hat Knows a lot about that!” foi sensacional! “O gatola da cartola tem tudo na cachola! ” mantêm as rimas próprias do autor, além de ter certo apelo pra as crianças e soar completamente natural e nada forçado, dentro da proposta do desenho. Há quem argumente que “gatola” pode ser um pouco rebuscado demais, mas com certeza foi um recurso que ajudou a recuperar as rimas de forma criativa.
Green Eggs and Ham
Em português “Ovos verdes com presunto”, essa história conta de forma bem simples como a personagem se recusa a experimentar essa comida, tão diferente. Um pequeno trecho da obra já deixa claro como o texto é, na sua simplicidade, extremamente complexo para um tradutor:
Would you like them here or there?
I would not like them here or there.
I would not like them anywhere.
I do not like green eggs and ham.
I do not like them, Sam-I-Am.
Os recursos de paralelismo e repetição, além das rimas, são claros e recorrentes. Manter essa estrutura, sem perder o sentido e sem lançar mão de palavras mais difíceis ou rebuscadas não é fácil, e a versão em português de Portugal deste trecho prova que a língua portuguesa consegue reproduzir a mensagem, mas com certa dificuldade. Os versos continuam simples, os recursos fonéticos forma mantidos, mas foi necessário aumentar um pouco o número de palavras. Isso é algo que notamos de forma recorrente, já que o inglês é uma língua considerada mais “direta e objetiva” que o português:
Não os quero aqui nem acolá.
Não os vou querer aí ou além ou cá.
Eu não gosto deste assunto dos ovos verdes e presunto.
Não gosto e pronto, Sam-Eu.Sou. Ponto!
Mais informações interessantíssimas sobre a tradução da obra podem ser encontradas aqui.
The Lorax
Traduzido ao português como “O Lórax”, contou com o trabalho de Bruna Beber, que conta em entrevista como foi o processo de tradução. As palavras dela são interessantíssimas, pois ela explica que há um constante aprendizado na hora de escrever para crianças e, apesar de ser um trabalho que requer fidelidade, liberdades são necessárias, já que o processo requer interpretar o que o autor “queria dizer”, apesar de nunca ser possível saber “com total certeza” o que ele estava pensando. Ela destaca também, que o autor inventava várias palavras, e utilizando as raízes etimológicas da nossa língua, foi possível recriar essas palavras. Por exemplo, “Thneed”, que é uma peça de roupa que serve todas e nenhuma função ao mesmo tempo, virou “Nãocessidade”, uma palavra simples, com um trocadilho específico, mas clara e divertida, para apelar às crianças. Todo um teste de criatividade e conhecimento!
Desta forma, recomendamos a todos a obra deste autor incrível, além das suas traduções ao português que, com certeza, foram pensadas e desenvolvidas com muito esforço pelos tradutores! Adicionalmente, desejamos a todos um dia das crianças repleto de leituras!
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