Saúde mental e os tradutores

sexta-feira, março 18th, 2022

Na última semana trouxemos no nosso blog o segundo post da série de tradução em tempos de crise. Entendemos claramente que o intérprete e o tradutor se tornam fundamentais neste sentido, que são a ponte que conecta as pessoas e leva informações que podem salvar as vidas ou simplesmente levar notícias internacionalmente. Há um outro lado, porém, que às vezes esquecemos: como fica o emocional destes profissionais neste contexto? Um dos vídeos que mais circulou e surpreendeu na internet, pelo menos no nosso âmbito de tradutores, foi o da tradutora de alemão que interpretava o discurso de Zelensky nos primeiros dias após o inicio da guerra, onde ela se quebra e chora, não conseguindo finalizar a fala, claramente abalada.

No podcast de Ms. Prodigi, Gabriel Cabrera, um reconhecido intérprete que se desempenha nos serviços públicos espanhóis, fala sobre a síndrome de burnout nos intérpretes que trabalham “dando más notícias” e menciona o Síndrome de Fadiga por Compaixão, que já é comum em trabalhadores da área da saúde e de serviços sociais, e que agora também é cada vez mais visível em intérpretes. Segundo o  artigo publicado na Revista Psicologia Organizações e Trabalho, “Fadiga por compaixão é uma síndrome de exaustão biológica, psicológica e social que pode acometer indivíduos que liberam energia psíquica, em forma de compaixão, a outros seres (humanos ou animais) por um período de tempo, sem se sentirem suficientemente recompensados (Figley, 2002a, 2002b)”. É um problema que pode levar à depressão e gerar problemas de saúde irreversíveis, e isto revela que apenas ser profissional e se comportar como tal não é suficiente.

Assim como outros professionais de áreas que lidam com altos graus de estresse, estes intérpretes precisam de um sistema de apoio pessoal, assim como ajuda profissional, para realmente compreender que, por mais triste que seja, os problemas dos outros não lhe pertencem, e desvincular-se um pouco da dor alheia. Isto não significa ser frio perante as necessidades dos clientes (que afinal de contas também são humanos e estão precisando de ajuda) mas compreender que o problema em si não está acontecendo com ele, e que não há nada que possa fazer além do trabalho que está prestando.

Outro detalhe importante, é que não se fala muito deste “outro lado”, nem nas faculdades, nem dentro das agências ou entre os intérpretes em si. Com as crises recentes, felizmente, estas questões de saúde mental estão cada vez mais em pauta, e mudanças estão ocorrendo aos poucos.

Desta forma, lembramos: seja você tradutor, intérprete, revisor, etc., cuidar da saúde mental é sempre algo fundamental, que pode nos ajudar no nosso trabalho, por mais que pareça que as duas questões não estão relacionadas!

 

 


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