Brexit e os Intérpretes

sexta-feira, dezembro 13th, 2019

Um dos assuntos mais comentados, debatidos e estudados nesses últimos tempos tem sido a saída da Grã-Bretanha da União Europeia (também conhecida como “Brexit”). Como sabemos, há milhares de implicações políticas e econômicas. Mas, quais são as consequências desse fenômeno para os intérpretes e tradutores?

Há trinta anos atrás, a língua dominante nas reuniões da União Europeia era o francês. Com o passar do tempo, o inglês e o alemão ganharam espaço, sendo hoje em dia essas três as mais utilizadas em reuniões entre os países europeus. Só considerando isso, já é obvio que a União Europeia trabalha com intérpretes há muito tempo, e os especialistas em língua inglesa eram, principalmente, os britânicos. Algumas considerações foram lançadas sobre os resultados que isso pode trazer, linguisticamente, para as nações pertencentes à EU, sendo algumas delas:

Consequências para a Grã-Bretanha:

Por ser uma nação tão forte, não houve um grande interesse da população, a princípio, de aprender as línguas dos outros países da região, já que todas as negociações eram feitas no idioma dominante, o inglês. E isso fez com que a disponibilidade de tradutores e intérpretes fosse um pouco limitada.

O Brexit vai deixar uma necessidade enorme de traduzir documentos oficiais, uma leva de reuniões a serem feitas e haverá um pico na contratação de tradutores e intérpretes, dada a grande possibilidade de que a nação passe a negociar com outros países fora da União como, por exemplo, o Brasil. Mas, devido às questões que mencionamos, por ter passado muito tempo em uma situação de “conforto”, é possível que o país não possua profissionais suficientes para atender a essa grande demanda. E essa situação representa agora uma dificuldade, ou até mesmo um risco, caso a língua inglesa realmente não seja mais tão predominante quanto antes.

Consequências para os países da União Europeia:

Considerando a questão levantada, de que poderá haver uma diminuição na utilização da língua inglesa dentro das reuniões oficiais da União Europeia, alguns pensadores acreditam que, talvez, o inglês possa continuar sendo utilizado como uma língua-franca dentro dos países da União, mesmo após a saída da Grã-Bretanha, já que é uma língua prática e conhecida pelos países, sendo até possível o surgimento de uma variável “neutra”.

Outros, consideram que o idioma não será mais muito desejável para negociações, considerando o período de crise estrutural que a Europa está enfrentando, com a saída do Reino Unido e a falta de interesse dos Estados Unidos em negociar com a União. Afinal, como bem sabemos e destacamos, as línguas carregam um sentido e uma característica cultural, e são um meio de expansão de valores e ideias inerentes. Ou, como diz Thierry Lefevre: “{…} in using a certain language, we are in reality importing a value system, a culture, a way of seeing the world”. Afinal de contas, é provável que os países da região não queiram adotar a língua e, consequentemente, os valores e costumes, de um país que já não forma parte do grupo.

Como conclusão geral para esta questão, acreditamos que este momento será muito interessante para os profissionais das áreas de tradução e interpretação, e vale a pena voltar o olhar para a Europa e as oportunidades e mudanças que poderão surgir com o passar do tempo. Afinal de contas, uma alteração estrutural tão grande, certamente trará mudanças, questionamentos e, potencialmente, oportunidades. Para quem tiver interesse em conhecer mais sobre o contexto geral da situação, e compreender como a União Europeia se formou, recomendamos o vídeo da AIIC, que você confere neste link.


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