Autores tradutores: Jorge Luis Borges

sexta-feira, agosto 16th, 2019

Jorge Luís Borges foi um autor argentino, famoso na América Latina pelos seus livros, como O Aleph, Ficções e O livro dos seres imaginários. Além da grande capacidade para a literatura que possuía, ele também dedicou-se à tradução, tendo feito sua primeira tradução do livro O príncipe feliz, de Oscar Wilde, com apenas 9 anos. Apesar de não ter se desempenhado de forma profissional, fez traduções por vários anos da sua vida, especializando-se nos idiomas inglês, alemão e francês, e contanto com nomes como Franz Kafka, Edgar Allan Poe, Virginia Woolf e William Faulkner no seu portfólio. Ele gostava de realizar esse trabalho de forma lúdica, para explorar as possibilidades que as línguas ofereciam e meramente por diversão.

O interessante sobre Borges, é que ele traduzia com uma intenção que ia além de apenas passar os textos de uma língua para outra: ele acreditava que uma tradução podia SIM superar o texto original, e que as alterações eram necessárias, mesmo que sacrificassem um pouco do original. Ele afirmava que o original e a sua tradução literal não precisavam ser fieis à tradução final. O fato dele considerar que tinha total liberdade para alterar a fonte rendeu várias críticas, mas também gerou um grande debate porque, por incrível que pareça, os textos finais que ele apresentava eram, realmente, bons! Um exemplo:

SONG OF MYSELF

I celebrate myself, and sing myself,

And what I assume you shall assume,

For every atom belonging to me as good

belongs to you

(Whitman, en Hojas de hierba)

 

CANTO DE MÍ MISMO

Yo me celebro y yo me canto,

Y todo cuanto es mío también es tuyo,

Porque no hay un átomo de mi cuerpo

que no te pertenezca.

(Trad. de Jorge L. Borges)

Só de comparar estes dois trechos, é visível que as escolhas lexicais e até mesmo de estrutura são diferentes (ele escolheu acrescentar o “yo”, que não se encontra no original tantas vezes, além de omitir alguns termos), mas o resultado passa a mensagem do original e o apelo da beleza da poesia está totalmente presente! Claramente, não estamos propondo que essa forma de trabalhar é a mais correta, mas, em um momento em que tanto se destaca a invisibilidade do tradutor, esta ótica é interessante. O autor afirmava, que não conseguia pensar na tradução como algo diferente disso: uma mistura entre o que ele sentiu e compreendeu e uma – infelizmente – aproximação do original, porque não tinha outra escolha.

Apesar de não podermos trabalhar da mesma forma que Borges na tradução técnica, ele afirma algo que realmente condiz com nossos valores: “O erro está em não levar em consideração que cada língua é uma forma de sentir o universo e de perceber o universo” e isso é totalmente real, como defendemos na Vernaculum: cada língua é um mundo e suas características culturais devem ser respeitadas.


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Vernaculum - Todos Direitos Reservados 2019