segunda-feira, dezembro 13th, 2021
Muito tem se falado nos últimos meses sobre o novo seriado da Netflix, Round 6 (ou Squid Game, no seu nome original), de origem coreana, e como ele retrata situações da nossa realidade moderna de forma crítica e bem pensada. Outra coisa que chama a atenção é o fato de um seriado de uma origem tão “diferente” estar se tornando tão popular, num mundo em que as produções estadunidenses acabam ocupando toda a atenção do público.
A realidade é que essa “korean fever” que está ocorrendo começou alguns anos atrás, com a influência de cantores de bandas de pop coreanas (o famoso K-pop) e posteriormente com a vitória do diretor Bong Joon-ho nos Academy Awards, com seu filme “Parasita”. Na época, o diretor disse uma frase que marcou muito, que foi “quando vocês superarem as barreiras de filmes com legendas, conhecerão muitos filmes incríveis” … e com certeza essas palavras tiveram seu impacto na língua e na forma como as pessoas (ou talvez as novas gerações) consomem conteúdo.
Nesse contexto, questionamentos muito pertinentes estão surgindo sobre como as legendas dessas produções possuem pequenos erros ou distorções provocados pelas diferenças culturais, ou até mesmo por falta de preparo de profissionais nesse par de línguas, que era tão pouco exigido antigamente e cresceu exponencialmente. Um exemplo disso é o termo “hyung”, que significa algo como “irmão mais velho”, que revela uma conexão de afeto e intimidade grande entre as personagens. Nas legendas em inglês, esse termo foi eliminado, fazendo com que o texto ainda seja compreensível, mas eliminando um pouco as nuances. E é aí que está a maior questão: graças a esses novos conteúdos, estamos entrando em contato com o intraduzível, que são as influências e noções culturais diferentes das nossas.
Já no Brasil, esses problemas com o intraduzível ou a falta de contato profundo com a cultura estrangeira também ficam claros, como menciona este artigo, sendo um bom exemplo disso uma passagem em que a personagem afirma “não ser um gênio, mas que consegue se virar”, sendo que na realidade esse trecho faz referência às dificuldades das classes menos privilegiadas de ter acesso a uma educação de qualidade. Além disso, o título do seriado foi alterado no nosso país, passando de ser “Squid Game” (o jogo da lula, uma brincadeira infantil muito comum na Coréia) por “Round 6”, fazendo referência à quantidade de provas pelas quais os jogadores têm que passar. Segundo a Netflix, essa alteração foi feita porque o tal jogo não é conhecido no nosso país e seria confuso para o público local, mas houve também quem teorizou que esse nome poderia sofrer nuances políticas, devido a que “Lula” é o apelido de um ex-presidente brasileiro.
Como afirma este artigo de The Conversation: “Enquanto a tradução e a interpretação funcionam como uma importante ponte linguística e cultural, o espaço deixado pelo intraduzível só pode ser preenchido por uma compreensão genuína da outra cultura e sua língua”. Tudo isso é um processo longo e vagaroso, mas estamos começando a chegar lá. Um bom exemplo disso é que, segundo este artigo da BBC, 26 termos de origem coreana foram adicionados ao dicionário Oxford nos últimos tempos, e isso já é um claro sinal no processo de influência e mudança.
Achamos tudo isso importante e pertinente, pois entendemos que a cultura permeia tudo, e valorizar essas questões, além de compreendê-las e esforçar-se pra passar elas de forma fiel a uma língua diferente é um dos principais valores da nossa empresa!
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